segunda-feira, 24 de maio de 2010

COM XIS?


É a Regina, diz ela assustada ao telefone ao seu primo médico. Estou com queimor atrás do peito, bem no meio. Será coração?
Não, não, responde ele, deve ser pela gastro-enterite. Não tiveste diarreia há poucos dias, pergunta já desconfiado se era mesmo sua prima que lhe contara sobre este problema ou fora sua vizinha de cabelos pintados de vermelho que sempre parava em frente ao portão quando estava varrendo a calçada e falava sobre as funções de seu intestino. Toma aldrox, fala ele com veemência.
Com xis no fim? Agora em um tom mais baixo que anteriormente pergunta ela de maneira firme.
Sim, com xis no fim, responde ele. Toma uma colher de sopa agora e outra antes de deitar, e amanhã mais quatro vezes nos intervalos das refeições. Amanhã te ligo, fala. 349....pensa, e o resto do número não aparece dentro da cabeça. Onde estará minha agenda? Esta mania da empregada guardar tudo me enloquece.
Joga-se na poltrona, liga a TV, fecha os olhos e tenta dormir. Na sua mente repete-se:com xis,com xis....xis....xis....is....s....

2 comentários:

  1. Nossa, este conto parece ser um sonho meu. Ou melhor, um pesadelo, quando ia tocar e não reconhecia as notas e fazia qualquer coisa no piano,e também não reconhecia o que tocava. Pesadelo mesmo!
    Pobrezinha da professorinha e seu ex-padre, que maldade!

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  2. Gostei, Ari. Gostei muito. Continuas talentoso.
    Marcia Konder

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