sábado, 15 de agosto de 2009

A mulherzinha de bermuda bege

Daí ela chegou no açougue vestindo uma daquelas bermudas largas que estão na moda, de tom bege e tecido mole, e tentou furar a fila.

Eu estou muito aflita, disse ela, com muita pressa pois estava no velório de minha tia e de repente me lembrei que meu marido ficara sem almoço e preciso voltar o mais rápido possível. Ele gosta tanto de bife com batata frita, só que hoje vai ter que se contentar com o que tiver. Disse tudo isto com a voz em um tom de vítima mas também denotando superioridade.

A roupa que vestia me irritou de maneira bastante profunda, principalmente pela moleza do tecido e também por ter entrado na moda roupa tão deselegante,então eu falei num tom baixo porém firme: todos estão com pressa e a senhora deverá entrar na fila.

Como último recurso lhe caíram lágrimas mas não cedi. Olhei firmemente para umas lingüiças secas que estavam penduradas perto da balança e até pude ler numa etiqueta azul sua procedência: Jaraguá do Sul. Então me lembrei da tia Wally, dos tempos em que adolescente ia passar férias em sua casa naquela cidadezinha alemã e comia apple-strudel e chocolate dissolvido em leite condensado.

Retornei meu olhar às pessoas e pude ver então o açougueiro sorrateiramente entregando um saco plástico com alguns bifes à mulherzinha de bermuda bege.

2 comentários:

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  2. Ari, não sabia que você tinha uma veia humorística tão aguçada. Gostei da crônica e da sutileza com que narras a ardilosa "mãnha" da mulher, que foi às últimas consequências para, furando a fila comprar logo os bifes para o marido. Congratulations!
    Um Abraço!
    Marly.

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